Já ficou olhando para uma lista de tarefas, sabendo exatamente o que precisa ser feito, mas sem conseguir começar? Ou se pegou superfocado em algo aleatório enquanto as coisas “importantes” ficam esquecidas? Se você tem TDAH, saiba que não está sozinho.
Para muitos de nós, crescer com TDAH significou ser chamado de preguiçoso, desmotivado ou desorganizado. Mas a verdade? TDAH não é questão de força de vontade; é sobre como nossos cérebros interagem com a dopamina, o neurotransmissor que impulsiona a motivação, o foco e a sensação de recompensa. E quando a dopamina não funciona do jeito que o mundo espera, até tarefas simples podem parecer impossíveis. A boa notícia? Entender a conexão entre TDAH e dopamina pode ajudar você a deixar a culpa de lado e encontrar estratégias que realmente funcionam. Vamos explicar melhor.
O que é dopamina e qual a sua função?
A dopamina é um neurotransmissor que ajuda a regular a motivação, a atenção e o humor. Ela desempenha um papel fundamental em como nos engajamos nas tarefas, buscamos recompensas e sentimos satisfação. Mas cérebros com TDAH frequentemente não produzem, processam ou regulam a dopamina da mesma forma que cérebros sem TDAH, tornando mais difícil manter a atenção ou começar tarefas que não despertam interesse imediato ou senso de urgência.
Isso não é uma falha pessoal: é uma diferença na forma como o cérebro funciona. Nosso mundo é feito para cérebros neurotípicos, e essa diferença pode tornar funções executivas, foco e motivação desafios constantes.
A relação entre dopamina e TDAH
As diferenças na regulação da dopamina no TDAH se manifestam de formas que impactam profundamente o dia a dia:
- Paralisia para iniciar tarefas: Começar uma tarefa pode parecer impossível sem o equilíbrio adequado de dopamina.
- Motivação inconsistente: Em vez de serem impulsionados pela rotina, pessoas com TDAH geralmente dependem da motivação baseada no interesse.
- Comportamentos de busca por dopamina: cérebros com TDAH anseiam por estímulos, o que pode se manifestar como hiperfixação, busca por novidades ou navegação interminável nas redes sociais.
Açúcar, cafeína e dopamina no TDAH
Muitas pessoas com TDAH recorrem instintivamente ao açúcar, à cafeína ou a outros estimulantes para autorregular os níveis de dopamina. Veja por quê:
- Açúcar e dopamina: O açúcar oferece um aumento temporário de dopamina, por isso algumas pessoas com TDAH sentem vontade de comer doces quando precisam de um impulso. No entanto, essa alta é passageira e pode resultar em quedas bruscas depois.
- Cafeína e dopamina: A cafeína aumenta a disponibilidade de dopamina, o que pode ajudar algumas pessoas com TDAH a se concentrarem, mas em excesso pode causar ansiedade e prejudicar o sono.
Essas são estratégias de enfrentamento compreensíveis em um mundo que não oferece suporte natural para cérebros com TDAH, mas não são soluções a longo prazo.
O que os profissionais de saúde dizem sobre TDAH e dopamina
Pesquisas confirmam que o TDAH está ligado a diferenças na função do transportador de dopamina, afetando a eficiência do uso da dopamina no cérebro.
Por isso, medicamentos estimulantes como Adderall e Ritalina costumam ajudar: eles tornam a dopamina mais disponível e utilizável.
Mas a medicação é apenas uma das ferramentas, e o acesso a ela é profundamente desigual. Muitas pessoas com TDAH, especialmente aquelas de comunidades marginalizadas, enfrentam barreiras para diagnóstico e tratamento. Reconhecer que o TDAH faz parte da neurodiversidade, e não é apenas um transtorno a ser tratado, ajuda a mudar a conversa para foco em apoio, acessibilidade e mudanças sistêmicas.
O mito do “Dopamine Detox”
O conceito de “detox de dopamina” ganhou popularidade online, com a promessa de que evitar atividades estimulantes pode “resetar” o cérebro. Mas o TDAH não é causado por excesso de dopamina — está relacionado à baixa disponibilidade dela. Cortar fontes de prazer ou estímulo não ajuda quem tem TDAH; só torna tudo mais difícil.
Em vez de eliminar a dopamina, o que realmente funciona são estratégias estruturadas de regulação, como usar recompensas baseadas em interesse, criar rotinas com movimento e contar com apoio externo para manter o foco.